5º encontro de formação do projeto Mediadores de Leitura na escola e na biblioteca
07.10.2020O 5º encontro de formação do projeto Mediadores de Leitura na escola e na biblioteca aconteceu no dia 29 de setembro e teve como tema: Protocolos para a reabertura de bibliotecas. Com a participação expressiva de representantes das bibliotecas comunitárias, equipe CEEL e convidados, tivemos frequência recorde de 47 presentes.
A primeira fala foi da bibliotecária da Releitura, Yasmin Wink Finger que historiou como o conjunto das bibliotecas vinculadas à RNBC formulou procedimentos para retomar suas atividades, seguindo orientações e protocolos de segurança. A orientação é que os espaços só reabram para o público em 2021, mas o compromisso com os leitores é buscar alternativas de mediação de leitura, mesmo sem abrir as bibliotecas. Foram elaboradas 4 normativas para reger a reabertura das bibliotecas: orientações municipais e estaduais; retomada de aulas em escolas públicas; estatísticas sobre a pandemia (número de infectados e óbitos, taxa de ocupação de leitos de UTI); e orientações da Organização Mundial da Saúde. Diante disso, as medidas indicadas são: equipamentos de proteção individual (EPI); orientações de limpeza e higiene do espaço; orientações de higiene pessoal. Propõe-se 4 fases, processuais, para a reabertura, que sejam pautados na ciência e com indicações de cautelas a serem tomadas para garantir a segurança de todos, mediadores e frequentadores das bibliotecas.
Várias pessoas interagiram com a fala de Yasmin. Rafael Andrade (Biblioteca Popular Coque) afirmou: “Esse protocolo é muito bom mesmo, bem completo. As bibliotecárias da RNBC desenvolveram um trabalho muito bom e tudo baseado no que órgãos de saúde recomendam. É um ótimo documento para combater fake news.”
A bibliotecária Giane da Paz Silva, coordenadora da biblioteca do Centro Acadêmico de Vitória de Santo Antão da UFPE, foi a segunda expositora da tarde. Além de disponibilizar o link com os protocolos adotados pelas bibliotecas universitárias
(https://attena.ufpe.br/bitstream/123456789/37888/1/Bibliotecas%20da%20UFPE%20no%20contexto%20da%20Covid%2019%20%281%29.pdf), Giane compartilhou com o grupo suas reflexões sobre esse momento de pandemia e suas repercussões sobre as bibliotecas. Para ela: “Quem está na biblioteca quer prestar serviço, mas tem que pensar em quem está na outra ponta, quem está sentindo falta da biblioteca. Pessoas que tinham rotinas para estudar, que estão se preparando para o ENEM, estudantes de graduação, de pós e pessoas que usavam a biblioteca como espaço de encontros, de amizade, de conversa”. Com a suspensão das atividades na UFPE em março as bibliotecas iniciaram o debate, com um Plano de Contingência – Grupo de Trabalho, que Giane coordenou, para pensar protocolos de reabertura das unidades que compõem o sistema de bibliotecas universitárias da UFPE. Mesmo sendo sistema, cada biblioteca é diferente e não se conheciam bem. O grupo começou a perceber as diferentes realidades de pessoal, de infraestrutura, de limpeza, equipes. Na preparação do documento tiveram que lidar com o que seria comum, mas sem desconsiderar as especificidades. Segundo Giane: “Para além do protocolo, é importante pensar nas pessoas, como as pessoas vão lidar com essas orientações, considerando como as pessoas estão se sentindo diante da pandemia. Não basta orientar, dar informação, é preciso ver como as pessoas estão recebendo essas orientações, considerando a importância da conscientização diante das novas rotinas que orientam as novas práticas”. Dentre as ações que se mantiveram nesse período de pandemia, a bibliotecária compartilhou a experiência do projeto “Talentos CAV”, que manteve durante a pandemia o compartilhamento de poemas e de outras expressões artísticas de seus usuários. Concluindo, ela disse: “Esse foi um tempo de coletividade, de construção coletiva, de refletir sobre o papel do profissional da informação, pensar para além das paredes da biblioteca. Que o usuário saiba que pode contar conosco, mesmo remotamente. A gente tem que se cuidar para poder receber bem, abrir bem e não com medo porque ele [o usuário] está ali. Retomar e estar feliz de receber os usuários, e que o medo não seja a marca. Esperamos que seja bom para todos. É importante substituir o medo pela alegria de receber quem frequenta as bibliotecas. Nesse período de isolamento social, o que anima as pessoas são as boas leituras, boas músicas, bons vídeos. Pessoas fizeram coisas que o dia a dia normal não permitia: pintaram quadros, plantaram hortas, ligaram para amigos... Tudo é suporte de informação (instrumento de trabalho da biblioteconomia) e é o que está ajudando as pessoas a atravessarem esse período difícil”.
Dentre os comentários em reação à exposição de Giane, destacamos:
“Muito legal essa fala de Giane. muito pertinente ao momento crítico de uma falsa normalidade” (Jéssica Evelin Miranda)
“Adorei sua fala Giane, sua fala é uma realidade de todos e principalmente de quem trabalha dentro dos espaços que estão adoecendo psicológica e emocionalmente. (Maria Betânia, BPC)
Nosso terceiro convidado, Lourival Pinto, coordenador do Curso de Biblioteconomia da UFPE, destacou em sua fala que não estamos somente pensando nos serviços, mas na relação com as pessoas e lembrou: “Como leitor, sinto que as bibliotecas fazem falta. Estou fazendo nesse período uma atividade com Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares, e aproveitei e já fiz minha carteirinha, para poder pegar livros emprestados. Como as bibliotecas fazem falta, protocolos levam em conta várias questões. Além do empréstimo, o que mais faz falta são as ações coletivas”. Em sua intervenção, Lourival também compartilhou a necessidade de revisão no perfil do curso de graduação em Biblioteconomia tornando-o mais voltado para as questões culturais, e, nesse sentido, a biblioteca comunitária e escolar são referências importantes para a formação de novo bibliotecário que esteja voltado a trabalhar com cultura, sociedade, mediações. Para Lourival: “Biblioteca é espaço de encontros, para diversas atividades que beneficiam a comunidade. Lugar de encontro com o livro, entre pessoas, que fazem política, que trocam ideias, pensam em melhorar o mundo. A ação do bibliotecário tem que ir além das técnicas e das tecnologias e pensar na relação com as pessoas, comprometimento com a formação de leitores, aprendizagem informacional, que atendam a demandas da sociedade. Entre a biblioteconomia das pessoas e das coisas, escolham a das pessoas!”. Concluindo, Lourival reafirmou o papel da biblioteca como espaço de informação, de literatura e de apoio social nas comunidades: “Biblioteca faz falta: espaço do leitor literário, espaço de encontros, papel social, local de cuidado do outro. Sempre tem uma pessoa do outro lado, para além da técnica e isso é o essencial na biblioteca”.
Também registramos comentários à fala de Lourival:
“Bibliotecas comunitárias com um trabalho extra de cuidados em assistência e promoção social intensos e de muita conscientização. Parabéns!” (Helen Santos, CEEL)
“Na realidade, não fechamos a biblioteca, deixamos de fazer a linha direta de mediações de leitura, mas outras estão sendo realizadas, atendendo as comunidades. Não abrir a biblioteca é por responsabilidade institucional, mesmo com a saudade e vontade de voltar a atender as crianças e jovens. Nesse período, a biblioteca abriu para um público virtual, que não tinha antes muito investimento”. (Reginaldo Pereira, BCCT)
“A pandemia é justamente este momento não esperado que afeta a vida de todos nós com incertezas, medos e consequências subjetivas e reais no cotidiano.” (Emília Lins, BC Alto do Moura e CEEL)
“Pelo visto a atuação se intensificou para abarcar o direito à vida e a socialização de apoio à comunidade do seu entorno”. (Jane Mary Amorim)
“Biblioteca também como espaço de informação em comunidades que perderam o medo do corona-vírus”. (Isamar Santana, CEPOMA)
“Só temos a agradecer esse encontro maravilhoso de esclarecimento e preocupação com o outro. A biblioteca fica muito maravilhada por poder fazer parte dessa discussão. Gratidão é a palavra do dia”. (Naide, Biblioteca Caboclo Girassol)
Apesar do tema proposto para esse encontro, que tratava do “retorno” o que ficou evidente é que de fato, as bibliotecas comunitárias não estão fechadas durante a pandemia, mas tiveram que reorientar suas ações e, em alguma medida ampliaram e diversificaram seu público incluindo com mais intensidade adultos e pessoas fora da comunidade, graças às ações via acesso remoto.
Reabertura? A biblioteca comunitária não fechou durante a pandemia, ela se reinventou, continuou viva, aproximou-se de novos interagentes e diversificou seu enraizamento comunitário.
Encerramos ouvindo a leitura e declamação de dois poemas, pelo estudante de biblioteconomia Paulo Sérgio Queiroz:
Eu queria dizer uma coisa que eu não posso sair dizendo por aí.
É um segredo que eu guardo, é uma revelação
Que eu não posso sair dizendo por aí.
É que eu tenho medo de que as pessoas se desequilibrem delas mesmas.
Que elas caiam quando eu disser.
É que eu descobri que a palavra não sabe o que diz.
A palavra delira. A palavra diz qualquer coisa.
A verdade é que a palavra, ela mesma, em si própria, não diz nada.
Quem diz é o acordo estabelecido entre quem fala e quem ouve.
Quando existe acordo existe comunicação,
Mas quando esse acordo se quebra ninguém diz mais nada,
Mesmo usando as mesmas palavras.
(Viviane Mosé – Revelação, livro Toda Palavra)
Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor. Essa palavra de luxo.
(Adelia Prado – Ensinamento)
“Cuidar de si e do outro: pensando a dimensão humana nas bibliotecas comunitárias”
15.09.2020Novo encontro da equipe do projeto Mediadores de Leitura na escola e na Biblioteca aconteceu no dia 08 de setembro, de 14 às 16 horas, com a presença de 24 pessoas, sendo representantes de 9 bibliotecas comunitárias, equipe do CEEL e convidados.
Para tratar do tema “Cuidar de si e do outro: pensando a dimensão humana nas bibliotecas comunitárias”, contamos com a presença da professora Ana Márcia Luna Monteiro, coordenadora do Espaço de Acolhimento do Centro de Educação da UFPE e Hugo Monteiro Ferreira, coordenador do Núcleo do Cuidado Humano, da UFRPE.
O diálogo teve como foco a dimensão do acolhimento e escuta acolhedora nas bibliotecas comunitárias. A professora Ana Márcia refletiu sobre as categorias: Cuidado, Dignidade e Ética. Ao pensar sobre a biblioteca comunitária, propôs, “Criar novos modos de existência e de relações nos espaços. Cuidado é razão não analítica como forma de resistir ao cinismo e à apatia, com forma de fortalecer delicadeza e encontro.”
O grupo interagiu com colocações importantes, não apenas na fala, mas nas reflexões escritas no chat, a exemplo do que destacamos a seguir:
Cuidar se si e do outro e muito importante nesse momento que vivemos atual. (Betânia, BPC)
Que precioso movimento...lidam com a mobilização das FORÇAS das pessoas e isso toca em algo que é uma das tradições nos cuidados sociais que é a criação de dependências. As práticas integrativas dispõem para a nossa (re) apropriação do corpo e de nossas energias todas. (Vania Silva, BC Poço)
Na sequência, o professor Hugo argumentou que a violência é construtora do sofrimento emocional e mental e que a contraparte é construir condições para uma “Sociedade cuidadosa”, que seja: acolhedora, que desenvolva a capacidade de gratidão, reconheça as vidas e que seja integrada com os seres vivos e que valoriza a espiritualidade. Sendo assim, propõe: “Sociedade que escuta, que é grata, que reconhece as intersubjetivações e a importância das culturas, da espiritualidade e a amorosidade – no sentido Freireano, de esperançar, de enfrentar a luta pelos direitos.”
A esse respeito, destacamos também reações no chat:
As bibliotecas comunitárias têm sido espaço de saúde em uma sociedade adoecida Aquilo que a gente vem discutindo na mediação de leitura... o respeito ao sentido construído pelo outro e a possibilidade de ampliá-los no diálogo. A dimensão da escuta na mediação de leitura, nos espaços das bibliotecas. Lindo isso! Espaço de acolhimento e de saúde das BCs (Ywanoska, CEEL)
Se as sociedade tem suas instituições marcadas pela lógica das violencias...incluindo as simbólicas , há em seu interior, continuamente, praticas com lógicas de cuidado. Talvez precisemos aprender com estas práticas...os cuidados coletivos de crianças nas comunidades. Estamos encharcados de pessoas junto conosco. (Vania, Biblioteca do Poço)
Agradeço muito em ouvir todos vocês. Ana Márcia obrigado pelo convite e pelas palavras e por esse Oasis de lucidez que você é. Tati que está assistindo aqui comigo também agradece (Ricardo Guedes, convidado).
Finalizando as discussões, Carminha (Carmem Lúcia Bandeira) sintetizou nosso sentimento de grupo, agradecendo aos convidados com a frase: vocês cuidaram de nós na tarde de hoje. Que venham mais tardes de cuidados e acolhimentos nesses tempos difíceis, nos quais fazemos questão de ser resistência e existência nessa parceria que nos movimenta.
Leitura na Biblioteca.
02.09.2020O terceiro encontro de formação do grupo Mediadores de Leitura na Escola e na Biblioteca, ocorreu no dia 25/08, com a presença de 35 pessoas, entre membros do grupo e convidados. Todas as 13 bibliotecas comunitárias envolvidas no projeto estiveram representadas, assim como a equipe CEEL. Para essa atividade formativa, recebemos o professor Rildo Cosson, que fez uma exposição e debateu com o grupo questões sobre Leitura e letramento literário na biblioteca.
Rildo Cosson tem sido uma referência importante nos estudos e formações desenvolvidos pelo nosso grupo e nesse encontro ele nos possibilitou uma discussão de suma importância sobre a Leitura como uma prática cultural, que representa uma operação complexa e um processo cumulativo de experiências e exercícios de construção de sentidos.
Foi particularmente interessante a discussão por ele apresentada em torno das modalidades da leitura, destacando dimensões que precisamos valorizar nas práticas de mediação de leitura, quais sejam: o silêncio, que inclui a leitura dos olhos e a leitura interior; a voz, abarcando a leitura para o outro e com o outro; a memória, representa a leitura do afeto e a interação, traduzida na participação, no comentário e na análise.
Rildo Cosson nos instigou a pensar sobre a construção de sentidos pelo leitor e nos possibilitou a discussão sobre o cuidado para não roubarmos o lugar do leitor nas situações de mediação de leitura. Destacamos a seguir a fala de Rildo Cosson sobre essa questão:
O caráter humanizador da literatura é porque ela nos transforma em sujeitos da linguagem. Com a literatura sou mais humano porque vou fazer a linguagem se desdobrar sobre si mesma. Isso me coloca na posição de sujeito. Na mediação é preciso ter cuidado para não roubar o lugar de sujeito do leitor.
O encontro foi muito dinâmico e interativo e os participantes puderam destacar aspectos relacionados às situações de mediação de leitura nas bibliotecas comunitárias e desafios enfrentados em tais práticas:
A ideia de que a leitura pode contribuir para o bem estar é sem dúvida tão antiga quanto a crença de que pode ser perigosa e nefasta (Ailton Guerra, Biblioteca do Poço)
Gostei da afirmação do professor quando definiu a leitura como prática humana, com todas as suas nuanças.O que está sempre implicado é o conteúdo da leitura (Vania Silva, Biblioteca do Poço)
Literatura é uma porta para acessar outros direitos, por isso a mediação é um ato político. (Stephano Santana, Biblioteca Educ Guri)
Uma vez li com um grupo na biblioteca o poema Contranarciso, de Paulo Leminski. Me surpreendi com a experiência porque as pessoas construíram várias outras leituras e isso me chamou a atenção para a importância também da oralidade na leitura. (Juca Tigre, Biblioteca do Peró)
A literatura contribui para construir sua história. O direito à leitura não é para nós, de periferias e comunidades. É uma conquista para quem não teve oportunidades na escola. Eu fui avançando na leitura. Sou um leitor em formação. (Reginaldo Pereira, Biblioteca Caranguejo Tabaiares)
Rildo Cosson terminou sua apresentação com o pensamento abaixo, que muito bem sintetiza a essência de nossas concepções enquanto grupo que estuda e trabalha com a democratização do acesso à leitura literária e a formação de leitores:
A leitura é parte constitutiva das pessoas. Não surpreende, portanto, que a leitura seja a metáfora básica quando se procura definir aquilo que é verdadeiramente humano.
Rildo Cosson